
Alguém que amo muito, um dia me disse que sonho demais, e ele tem toda razão. Eu tenho os pés nas nuvens, a alma errante e o céu da minha boca é estrelado.
É assim que sou. É disso que sou feita. Sou feita de nuvens e sonhos e é isso o que move todas minhas engrenagens.
Ora estou aqui, ora estou lá e de repente não estou mais em lugar nenhum.
A filha do Jorge também era assim.
Ela via colorido em tudo, mesmo nos dias cinzentos de inverno onde os sonhos não desabrocham.
Talvez eu seja assim por causa dela.
Ela me ensinou a sonhar quando me mostrou Botticelli, El Greco, Goya, Renoir e Rembrandt. Me ensinou a voar, quando descreveu as cores do teto da Capela Sistina.
Me ensinou a escutar, quando me fez ouvir o barulho do motor dos vaporettos que atravessam os canais de Veneza ou o burburinho do Marché des Enfants Rouges, no coração de Marais, em Paris.
A filha do Jorge abriu meus olhos quando me fez enxergar os raios de sol atravessando os arcos da Alhambra.
Me deu asas quando me contou que temos sangue alentejano correndo nas veias e que do outro lado do oceano havia uma família que um dia abraçaríamos.
Ela é a heroína de todos os romances que li. Atriz principal de todos os filmes que já assisti. Prima-dona de todas as óperas que ouvi.
Fio condutor do meu destino, me deu vida ao tornar-se mãe do Flávio. Vinte e três anos depois disso eu nasci. Acordei às 5:40, é a hora aproximada do meu nascimento. Acordei inquieta, olhando para o teto e para o fio de luz que se forma no topo da janela do meu quarto. Não é noite nem é dia, e aqui estou eu acordada outra vez.
Lentamente uma melodia surge distante na minha memória.
“ Sereno/ Eu caio,eu caio/ Sereno deixai cair/ Sereno da madrugada/ Não deixou meu bem dormir./ Minha vida, ai, ai, ai/ É um barquinho, ai, ai, ai/ Navegando sem leme e sem luz/ Quem me dera, ai, ai, ai/ Se eu tivesse, ai, ai, ai/ Os faróis dos teus olhos azuis.”
Ela cantava para mim.
De repente a vi inteira diante dos meus olhos, que de tanto sonharem já até duvidam do que veem.
É claro! Hoje é dia 2 de agosto e ela completaria 100 anos. Como minha avó não viria até aqui soprar novamente ao meu ouvido as mágicas palavrinhas?
“Sonha, Taís! Sonha!”
02 -VIII-2020
Uau. Perdi o fôlego com esses relatos, que fique na minha imaginação tudo que tu descreveu que ela fazia. ❤️
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Minha linda, teu tempo com ela foi curto mas não menos intenso. O amor por ti transbordava! Te amo. ❤
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Uma data muito especial, augusta. Que bela celebração do amor! Esse amor lindo, cheio de luz, transmitido no sorriso do olhar, tão bonito… Vó Ruth VIVA! Viva o amor! S2
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S2
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